23 novembro 2011

Ernesto Bonato: Projeto Maré - Residência Artística (décima terceira semana)

No último dia 22, estivemos na palestra do Ernesto Bonato "A Imagem Gráfica", sobre a natureza da gravura e da linguagem gráfica. Bonato falou sobre o desenvolvimento da gravura, sobre sua presença em diversas civilizações, em diferentes épocas. Também conversamos sobre como o seu desenvolvimento técnico sempre esteve ligado à necessidade de expressão e comunicação, sendo que o desenvolvimento da gravura como linguagem é que impulsionou as novidades tecnológicas, e não o inverso:

" Esse grande embate que existe entre os meios que você dispõe e aquilo que você quer fazer, aquilo que você quer dizer, sempre acontece no limite... Por exemplo: os artistas da Renascença gostariam de comunicar em gravura toda a experiência que eles já tinham em pintura, em escultura, da representação do espaço, das distâncias, dos volumes, mas eles tinham para isso um meio muito simples, que pode dar o preto ou o branco. E isso os obrigou a desenvolver toda uma linguagem gráfica baseada na trama linear que hoje nós identificamos como algo gráfico. Quando você olha para uma imagem, você diz "Ah, essa imagem é gráfica", por causa dos grafismos e coisas do tipo, naquela qualidade há uma coisa gráfica. A gente não se dá conta que essa linguagem é também fruto de uma impossibilidade, de um limite. Eles tinham que resolver a coisa com branco e preto, linha e não-linha. E isso chega a ter toda uma sintaxe, toda uma linguagem específica, que hoje nós usamos independentemente desse limite. Mesmo tendo recursos para fazer diferente, muitas pessoas fazem uso desse tipo de desenho porque associam a este, que era produzido desta forma, porque tinha que ser desta forma."


Ao final, Ernesto ainda chamou atenção para um tipo de vício no ensino da gravura, em especial da xilogravura. Segundo ele, estereótipos em relação à xilogravura no Brasil, calcados em uma suposta matriz expressionista, e em uma postura preconceituosa em relação à Xilogravura Popular (de cordel) produz uma visão bastante limitada e imparcial do que é a Xilogravura. Em nome da livre expressão e da espontaneidade, estaria se negligenciando aspectos técnicos e de procedimento da gravura, as suas minúcias e sutilezas, e principalmente, a criação de tonalidades, meio-tons, através de hachuras, etc, como se o alto contraste fosse uma característica esssencial desta linguagem. Ainda enfatizou que não haveria superiodade de importância de um procedimento ou outro, mas não se pode impedir o acesso de quem ainda está aprendendo o que é gravura a uma gama de conhecimentos tradicionais e técnicos, que ainda não estão esgotados.

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